As Riquezas do Brasil São

1876. O Imperador Pedro II, 51 anos, está cansado. O Império do Brasil parece acompanhá-lo no desânimo. Caminhando a passos lentos, o “gigante pela própria natureza” observa, acabrunhado, o avassalador crescimento econômico e tecnológico de nações igualmente jovens, como os Estados Unidos da América do Norte.

Tobias Barreto, o filósofo e poeta sergipano, já se indignara, em versos, com a condição letárgica da grande pátria dos brasileiros:

“Por que não ergue-se o Brasil fecundo,
Por vastas ambições, por fortes brios?
Que glória é esta de mostrar ao mundo,
Em vez de grandes homens – grandes rios?

Donde é que teu primor, pátria, derivas?
Por que ao orgulho ingênua te abandonas?
Ai!... As outras nações dizem altivas:
Pitt, ou Bismarck; e nós?... O Amazonas!”

Praticamente alheio ao velocímetro mundial, mas tentando conciliar suas funções reais com a possibilidade de um novo alento a sua modorrenta rotina, o Imperador - a pretexto de cuidar da saúde da Imperatriz Teresa Cristina e de visitar a grande Exposição Universal da Filadélfia - planeja um tour mundial. No roteiro, além dos Estados Unidos, está o Canadá, Dinamarca, Alemanha, Suécia, Rússia, Noruega, Grécia, Turquia, Bélgica, Áustria, Holanda, Portugal, Suíça e um pouco da Ásia e África.

A data de chegada de D. Pedro II aos Estados Unidos mostra-se especial: os ianques estão comemorando o primeiro centenário de independência da República. Recebido por um telegrama do presidente Grant e pela curiosidade da imprensa norte-americana – que o trata por “the only American Monarch”[o único monarca americano] – o Imperador encontra-se, nos corredores da Exposição da Filadélfia, com Thomas Edison e Graham Bell, que lhe apresenta sua mais recente invenção, o telefone.

Instado por Bell a falar no estranho aparelho, nosso monarca, zelando pelo alto nível cultural do império brasileiro, tasca um “to be or not to be”. Ao ouvir aquele aparentemente insignificante objeto responder-lhe, o imperador é taxativo: “Meus parabéns, Mr. Bell, quando a sua invenção for posta no mercado, o Brasil será o seu primeiro freguês”. De fato, um ano depois o telefone chegaria a terras brasileiras.

Satisfeito com as novidades da exposição, nosso imperador segue até o pavilhão brasileiro, onde estão expostos os produtos que nossa civilização tem a oferecer ao mundo: vários modelos de moedores de café, objetos indígenas e frutas das nossas vastas florestas tropicais. E um quadro de Pedro Américo, chamado “A Carioca”.


O quadro, que havia sido anteriormente ofertado ao Imperador - D. Pedro II o rejeitara sob a alegativa de que a obra era “por demais licenciosa” - fora comprado pelo rei da Prússia e agora reaparecia, por obra e graça de algum desavisado, no pavilhão brasileiro. E como que para contextualizar a cena, uma poesia de Sousândrade, logo abaixo da tela, arrematava:

“Antidilúvio paleosauro
Indústria nossa na Exposição
Que coxas! Que trouxas
De azul vidro é o sol patragão”.

O poeta simbolista, assim, destacava a importância daquela obra voluptuosa para a indústria nacional e, de quebra,antecipava aquilo que o mulatólogo Sargentelli só descobriria oitenta anos depois : a mulata é que era a tal.


De qualquer forma, para satisfação de Tobias Barreto, já não tínhamos apenas o Amazonas.

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