Língua de Boleiro

Se você digitar hoje (01/07/09) “O inglês de Joel Santana” no Google, em poucos segundos terá 139.000 referências ao seu dispor. Isso mesmo: 139.000. No youtube podem ser encontradas centenas de vídeos em que o treinador brasileiro tenta se comunicar com os repórteres no idioma da rainha mãe, do tio Sam e dos muitos filhos bastardos que o império britânico espalhou pelo mundo.

O assunto, por mais incrível que possa parecer, também foi vastamente explorado nos meios televisivos nas últimas semanas.

Enquanto seus patrícios escamoteiam os méritos de sua iniciativa intelectual, fazendo uso - sob a premissa do humor - do velho e surrado hábito nacional de zombar das pressupostas limitações cognitivas alheias, Joel segue seu caminho de treinador de futebol de uma limitada seleção estrangeira.

Mas equivocam-se os que pensam que Joel está sozinho nesse paredão do deboche nacional: existem outros brasileiros a lhe fazer companhia. Um deles é Mangabeira Unger, ex- ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos do Brasil e professor vitalício de Harvard.

Mas – dirão alguns - Mangabeira Unger, professor de Harvard, não fala um inglês perfeito? Sim, fala. Só que as críticas, no seu caso, vão para a forma como ele se expressa em... Português! Paradoxal, não?

Ao contrário do que possa parecer num primeiro momento, a ironia em torno de Joel e Mangabeira denunciam não só suas respectivas e insignificantes dificuldades com os idiomas citados, mas a mistura nociva de arrogância e ignorância que caracteriza grande parte dos brasileiros, principalmente aqueles que só conseguem apreciar o mundo com olhos esgazeados de colonizado.

Para esse grupo, de nada valem as palavras de um dos mestres da língua portuguesa, Eça de Queirós, que escreveu que “Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra; todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro”.

Para a maioria de nós, essa sugestão do escritor português - que é adotada pelos forasteiros que por aqui aportam - não serve. Nós somos brasileiros. E os brasileiros, como o mundo inteiro sabe, são os donos da bola. Certo?