A Praça, o Boticário e a Modernidade

O espaço físico da futura Praça do Ferreira - considerada por muitos o "coração" de Fortaleza - surge com a publicação, em 1842, da lei que autorizava uma reforma “do plano da cidade, eliminando dela a rua do Cotovelo a fim de ficar ali uma praça, que se denominará Praça Pedro II”.

Mais que um ato administrativo de caráter bajulador – D. Pedro II havia adquirido, dois anos antes, plenos poderes imperiais através da antecipação de sua maioridade – aquela medida estava em sintonia com o desejo de uma emergente classe burguesa local, ávida por radicalizar sua inserção na aventura da modernidade. Dessa forma, o antigo Largo das Trincheiras e seu conjunto de casas de taipa, remanescentes da pequena Vila de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, eram partes de um passado colonial que deveria ser esquecido.

Coube ao vereador Antônio Rodrigues Ferreira, um fluminense que aqui chegara em 1825, um ano depois do final dos conflitos da Confederação do Equador, a tarefa de por em prática o ideário acalentado pelas classes dominantes locais.

Eleito presidente da Câmara Municipal em 1843, cargo que equivale, nos dias de hoje, ao de prefeito, o boticário Ferreira - como era popularmente conhecido - empreendeu ao longo dos dezesseis anos seguintes uma série de intervenções no tecido urbano da cidade, intervenções essas que iam desde aberturas de praças e retificações de alinhamento de ruas, até a construção de cacimbões e edifícios, como o que veio a sediar a Assembléia Legislativa.

Até ano de seu falecimento (1859), o boticário Ferreira exerceu com determinação o papel que lhe fora confiado de paladino da modernidade. Tanto sua botica, como a praça que futuramente levaria seu nome – rebatizada pelo povo de Feira Nova - já ocupava lugar de destaque na cidade, como frisa o escritor Oliveira Paiva: “A botica, situada ao poente, era bastante afreguesada. Também, a Feira Nova era a bem dizer o centro da cidade, e quase todo mundo cruzava-a diariamente, quer em diagonal para abreviar o caminho, quer pelo abaulado empedramento, que lhe era como um caixilho gigante”.

Reforçando sua importância, a praça tinha a delimitar-lhe os extremos, além da Botica do Ferreira, o edifício da Câmara Municipal, o prédio térreo do Ensino Mútuo e o então famoso sobrado do Comendador Machado, um verdadeiro “monumento” ao triunfo técnico e ao progresso da província, já que havia sido construído, nas palavras de Mozart Soriano Aderaldo, “com o declarado propósito de provar que, sob o areal de Fortaleza, seria possível levantar edifícios de mais de dois pavimentos”.

Décadas depois o sobrado do Comendador Machado seria demolido e daria lugar aos nove andares do Excelsior Hotel que, além de ter sido aclamado como o “maior prédio de alvenaria do mundo” e “o maior hotel do Norte e Nordeste”, possuía também a “maior terrace do Brasil”. Como se pode ver, uma obra tipicamente cearense.

2 comentários:

Rondell disse...

How can y'all talk like this when the real issue at hand is our King of Pop just passed into the next life. God claimed himself another angel and his name is Michael Jackson.

Duarte Dias disse...

My condolences.