Cinema: Instrumento de Poesia*
Luis Buñuel

Nas mãos de um espírito livre, o cinema é uma arma magnífica e perigosa. É o melhor instrumento para exprimir o mundo dos sonhos, das emoções, do instinto. O mecanismo produtor das imagens cinematográficas é, por seu funcionamento intrínseco, aquele que, de todos os meios da expressão humana, mais se assemelha à mente humana, ou melhor, mais se aproxima do funcionamento da mente em estado de sonho. Jacques B. Brunius assinala que a noite paulatina que invade a sala equivale a fechar os olhos. Começa então na tela, e no interior da pessoa, a incursão pela noite do inconsciente; como no sonho, as imagens aparecem e desaparecem mediante fusões e escurecimentos; o tempo e o espaço tornam-se flexíveis, prestando-se a reduções ou distensões voluntárias; a ordem cronológica e os valores relativos da duração deixam de corresponder à realidade; a ação transcorre em ciclos que podem abranger minutos ou séculos; os movimentos se aceleram.

O cinema parece ter sido inventado para expressar a vida subconsciente, tão profundamente presente na poesia; porém, quase nunca é usado com este propósito.

* Trecho do artigo presente no livro "A Experiência do Cinema", organizado por Ismail Xavier, Editora Graal, 4ª Edição.

2 comentários:

Nirton Venancio disse...

Nessa foto Buñuel tá parecido com o Adoniran Barbosa...
O livro do Ismail é muito bom, hem?
Já leu a biografia do cineasta, "Meu último suspiro", ditada a ninguém menos que Jean-Claude Carrière?

Duarte Dias disse...

Rapaz, o livro é uma coletânea espetacular.

Saí para comprar outro título, mas quando o vi na prateleira, fui seduzido "de primeira".

E não, não conheço essa biografia do Buñuel... Pelo que você insinua, deve ser outra obra imperdível.

vou dar uma pesquisada.

Abraço!